terça-feira, 22 de junho de 2010

José Saramago...

Morreu nesta sexta-feira (18/06) o escritor português e prêmio Nobel de literatura José Saramago, aos 87 anos, em Tías, Lanzarote, Espanha.

José de Sousa Saramago nasceu na aldeia portuguesa de Azinhaga, província de Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, embora no registo oficial conste o dia 18. Filho dos camponeses sem terra José de Sousa e Maria da Piedade, mudou-se para Lisboa aos 2 anos, onde viveu grande parte de sua vida.

O escritor deveria ter sido registado com o mesmo nome do pai, mas o tabelião acrescentou o apelido pelo qual o chefe da família era conhecido na aldeia, Saramago, que também dá nome a uma planta que serve de alimento para os pobres em tempos difíceis.

Saramago concluiu os estudos secundários em uma escola técnica, mas não pode cursar a universidade por dificuldades financeiras. Sua primeira experiência profissional foi como mecânico. Fascinado pela literatura desde jovem, visitava com grande frequência a Biblioteca Municipal Central Palácio Galveias, na capital portuguesa. Foi só aos 19 anos, com dinheiro emprestado de um amigo, que conseguiu comprar pela primeira vez um livro.

Além de mecânico, o escritor português trabalhou como desenhista, funcionário público, editor, tradutor e jornalista. Durante doze anos, foi funcionário de uma editora, onde ocupou os cargos de director literário e de produção.

Publicou o seu primeiro romance, Terra do Pecado, em 1947. Em 1955, começou a fazer traduções de autores como Hegel, Tolstói e Baudelaire para aumentar os rendimentos. Seu próximo livro, Clarabóia, foi rejeitado pela editora e permanece inédito até hoje.

O escritor só publicaria um novo livro, Os Poemas Possíveis, (1966), dezanove anos depois do primeiro. Entre 1972 e 1973, foi comentarista político do Diário de Lisboa, coordenando durante alguns meses o suplemento cultural do jornal. Em um espaço de cinco anos, publicou sem grande repercussão mais dois livros de poesia, Provavelmente Alegria (1970) e O Ano de 1993 (1975).

O escritor fez parte da primeira directoria da Associação Portuguesa de Escritores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do Diário de Notícias, quando os militares portugueses, reagindo ao que consideravam os excessos da Revolução dos Cravos, demitiram diversos funcionários. A partir de 1976, o escritor português passou a viver exclusivamente de seu trabalho literário.

No ano seguinte, o autor voltou a escrever romances, gênero que o tornou mundialmente conhecido. A partir desta época, sua produção literária cresce consideravelmente, mas é em 1980 que Saramago dá uma grande guinada em sua produção literária, com a publicação de Levantado do Chão.

Segundo diversos críticos, a obra marca o início do estilo que o consagrou, destacado por frases e períodos extensos, que as vezes ocupam mais de uma página e são pontuados de maneira anti-convencional. Os diálogos entre os personagens costumam aparecer inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma a extinguir o uso de travessões em seus livros.

Com a censura do governo português à apresentação do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) para o Prêmio Literário Europeu sob alegação de que a obra ofendia os católicos, o escritor mudou-se para a ilha de Lanzarote, nas Canárias.

Em 1993, Saramago começou a escrever um diário, Cadernos de Lanzarote, em cinco volumes. Dois anos depois, publicou o romance O Ensaio Sobre a Cegueira, que será transformado em filme em 2008.

No mesmo ano em que publicou Ensaio Sobre a Cegueira, recebeu o prêmio Camões e em 1998, foi laureado com o prêmio Nobel de literatura, o primeiro dado a um escritor de língua portuguesa.

"Estava no aeroporto prestes a embarcar quando chegou a notícia de que tinha ganho o Prêmio Nobel. Houve um momento de alegria, os meus editores de Madrid, que estavam comigo, abraçaram-me. Depois encaminhei-me na direcção da saída e, por mais estranho que pareça, era um corredor muito comprido e deserto. Eu com a minha malinha de mão, com a minha gabardina no braço, passei de repente da alegria enormíssima da notícia que tinha recebido, para a solidão mais completa. Naquele momento a sensação que tive, claro que eu dava por mim numa grande alegria, era uma espécie de serenidade: pronto aconteceu", afirmou o escritor sobre o prêmio.

Considerado por especialistas um mestre no tratamento da língua portuguesa, em 2003 o escritor português foi considerado pelo crítico norte-americano Harold Bloom como o mais talentoso romancista vivo. Seus livros foram traduzidos para mais de vinte línguas, como sueco, romeno e húngaro.

Comunista ferrenho, Saramago teve sua carreira pontuada por polêmicas causadas por suas opiniões sobre religião, terrorismo e conflitos.

Família

Saramago casou-se pela primeira vez em 1944 com Ilda Reis, com quem teve uma filha, Violante, que nasceu em 1947. O escritor permaneceu casado com Ilda por 26 anos.

Após se divorciar, em 1970, iniciou um relacionamento com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega, que duraria até 1986.

Em 1988, o prêmio Nobel de Literatura casou-se novamente com a jornalista e tradutora espanhola María Del Pilar Del Río Sánchez, com quem permaneceu até a sua morte.

Obras publicadas

Poesia

Os Poemas Possíveis, 1966

Provavelmente Alegria, 1970

O Ano de 1993, 1975

Crônica

Deste Mundo e do Outro, 1971

A Bagagem do Viajante, 1973

As Opiniões que o DL Teve, 1974

Os Apontamentos, 1976

Viagens a Portugal, 1981

Diários

Cadernos de Lanzarote I, 1994

Cadernos de Lanzarote II, 1995

Cadernos de Lanzarote III, 1996

Cadernos de Lanzarote IV

Cadernos de Lanzarote V

Teatro

A Noite, 1979

Que Farei Com Este Livro?, 1980

A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987

In Nomine Dei, 1993

Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, 2005

Conto

Objeto Quase, 1978

Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979

O Conto da Ilha Desconhecida, 1997

Romance

Terra do Pecado, 1947

Manual de Pintura e Caligrafia, 1977

Levantado do Chão, 1980

Memorial do Convento, 1982

O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984

A Jangada de Pedra, 1986

História do Cerco de Lisboa, 1989

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991

Ensaio sobre a Cegueira, 1995

A Bagagem do Viajante, 1996

Todos os Nomes, 1997

A Caverna, 2000

O Homem Duplicado, 2002

Ensaio Sobre a Lucidez, 2004

As Intermitências da Morte, 2005

As Pequenas Memórias, 2006

A Viagem do Elefante, 2008

Caim, 2009

Prêmios

Portugal

Prêmio da Associação de Críticos Portugueses por A Noite, 1979

Prêmio Cidade de Lisboa por Levantado do Chão, 1980

Prêmio PEN Clube Português por Memorial do Convento, 1982 e O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984

Prêmio Literário Município de Lisboa por Memorial do Convento, 1982

Prêmio da Crítica (Associação Portuguesa de Críticos) por O Ano da Morte de Ricardo Reis

Prêmio Dom Dinis por O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1986

Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1992

Prêmio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995

Prêmio Camões, 1995

Itália

Prêmio Grinzane-Cavour por O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1987

Prêmio Internacional Ennio Flaiano por Levantado do Chão, 1992

Inglaterra

Prêmio do jornal The Independent por O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1993

Internacionais

Prêmio Internacional Literário Mondello (Palermo), pelo conjunto da obra, 1992

Prêmio Literário Brancatti (Zafferana/Sicília), pelo conjunto da obra, 1992

Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (APE), 1993

Prêmio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995

Prêmio Nobel da Literatura, 1998

Os «Saramaguianos» estão de luto e perderam o seu mestre maior e único.

P.C.