segunda-feira, 19 de julho de 2010

O caudilhismo, uma doença infantil da esquerda contemporânea…


A esquerda latino-americana comete um erro trágico ao deixar-se atrair por políticos caudilhistas, que fazem do populismo a sua imagem de marca e usam o nacionalismo exacerbado como estribilho seguro para se perpetuarem no poder. Este erro de proporções históricas começou com o apoio dado por amplos sectores de esquerda, nas décadas de 40 e 50, a figuras como Juan Domingo Perón (na Argentina) e Getúlio Vargas (no Brasil), por sinal oriundas da direita mais radical, e prolonga-se na actual onda de entusiasmo em torno do demagogo Hugo Chávez e de vários dos seus epígonos menores, como Evo Morales. Chávez, o mais desbragado populista do nosso tempo, faz lembrar o que H. L. Mencken dizia de Harry Truman: “Se a maioria da população fosse composta por canibais, ele prometeria missionários gratuitos, engordados à custa do contribuinte.” Isto já para não falar em Fidel Castro, que transformou Cuba num imenso beco sem saída. Alfabetizados, os cubanos que nada têm para ler, além do jornal do partido e as enjoativas prédicas do eterno "comandante”? “Os cubanos sabem ler e escrever, mas são praticamente analfabetos digitais. Apenas 2% da população tem acesso (censurado) à internet, contra 25% na Costa Rica”, como revelava recentemente a revista Veja.

A esquerda populista e radical, que congrega a retórica socialista com políticas assistencialistas dependentes de astronómicos fundos estatais, vocifera contra Washington, o que agrada também à extrema-direita. Mas esta retórica não ilude uma questão essencial: a destruição progressiva do frágil tecido empresarial e da massa crítica em países como a Bolívia e a Venezuela augura tempos muito difíceis para o subcontinente americano que fala português e espanhol. Chávez e Morales produziram profundas alterações constitucionais destinadas a centralizar ainda mais o poder destes “homens providenciais” em nome das “conquistas do socialismo”. Daqui à subalternização da democracia e do estrangulamento da sociedade civil vai um curto passo. Em Cuba passou-se o mesmo, com os resultados que se sabem: entre 1989 e 1998 o salário real médio dos cubanos caiu 44%. O número de famílias pobres na Venezuela aumentou 18% desde que Chávez assumiu o poder, há 11 anos.

Há uma lição fundamental que a História contemporânea nos ensina: a democracia política é indissociável do desenvolvimento económico. Mas a democracia ultrapassa o plano meramente instrumental, ligado à criação de riqueza: é um valor político essencial, não devendo ser desgraduada em nome do populismo. A esquerda chilena (com Michelle Bachelet) percebeu isto e segue o seu caminho autónomo, com inegável maturidade. A outra, tão festejada por certos comentadores cá do burgo, prossegue na via do abismo com o cardápio do costume: nacionalização dos principais sectores produtivos, “reforma agrária” destinada a colectivizar a miséria nos campos, asfixia das empresas privadas e criação de uma gigantesca classe de funcionários que parasita o erário público. Em África, cinco décadas de aplicação destas receitas geraram corrupção, fome, doença e penúria: não falta quem lhe chame o “continente perdido”. A América Latina não pode seguir o mesmo trilho. Para tanto, é fundamental que a esquerda saiba distinguir o trigo do joio, não caucionando novas receitas para o desastre.

E no Concelho de Palmela, os Autarcas “PCP/CDU” também fazem do populismo a sua imagem de marca e usam o nacionalismo exacerbado como estribilho seguro para se perpetuarem no poder e tratarem dos seus interesses e negócios pessoais.



C.D.U.